As margens cobradas pelos bancos nos empréstimos a empresas e famílias em janeiro foram as maiores desde março de 2012, quando a presidente Dilma Rousseff determinou que as instituições oficiais fizessem um corte radical nos spreads para injetar mais competição no sistema e forçar os bancos privados a seguir o mesmo caminho.
Dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram que o spread nas operações de crédito livre foi de 27,5 pontos percentuais no mês passado. Este é o maior valor desde março de 2012, quando estava em 27,9 pontos.
Os spreads bancários começaram a cair justamente em abril de 2012, quando o Banco do Brasil lançou o programa “Bom Para Todos” e a Caixa Econômica Federal promoveu rodadas de cortes no custo dos empréstimos, seguindo orientação de Dilma. A estratégia para aumentar a concorrência no mercado foi bem-sucedida até meados de 2013, quando os spreads chegaram ao menor valor da atual série histórica do BC, em 21,5 pontos.
A queda dos juros dos bancos federais foi possível graças ao ambiente de corte da taxa básica brasileira, que sustentou o emprego e a renda e reduziu os riscos de inadimplência, e com a ajuda de aportes de capital nas instituições oficiais pelo Tesouro, o que deu musculatura para expandir as carteiras.
A estratégia do governo de fazer uma baixa forçada do spread e reduzir os lucros dos bancos, porém, teve vida curta, mostram os dados do BC. Os spreads cobrados dos clientes vinham subindo desde meados de 2013, com o aperto da Taxa Selic pela autoridade monetária e, a partir de 2014, os bancos federais voltaram a subir os juros para recompor a rentabilidade.
Neste começo de ano, depois que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, assumiu com o compromisso de não colocar mais capital nos bancos públicos, essas instituições aceleraram um pouco mais a recomposição dos spreads. A Caixa, além de aumentar os juros do crédito livre, reajustou as taxas cobradas em linhas de crédito direcionado, como imobiliário.
Em janeiro, os spreads do crédito livre deram mais um salto, passando de 25,6 pontos para 27,5 pontos percentuais, na comparação com dezembro. O spread do crédito direcionado também avançou, de 2,7 pontos para 2,9 pontos.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, ponderou que uma parte da alta do spread se deve a um efeito estatístico – em janeiro, as famílias se endividam mais no cheque especial, que tem taxas mais altas. Mas os dados mostram que essa não é a principal explicação. A margem dos bancos no crédito livre a pessoas jurídicas, por exemplo, subiu de 24,2 pontos para 25,2 pontos percentuais.
O BC não abre o spread por modalidade de crédito, mas há evidências de que cresceu de forma generalizada. O custo de captação dos bancos nas operações com pessoas físicas recuou de 12,3% ao ano para 12,1% entre dezembro e janeiro. Mas os juros finais aumentaram até mesmo nos empréstimos consignados para servidores públicos (de 20% ao ano para 20,4% ao ano) e para beneficiários do INSS (de 28% para 28,4%).
Para Maciel, pelo menos parte da alta do spread se deve aos efeitos do aperto monetário. Pesquisas feitas pelo BC mostram que as altas de juros básicos se transmitem para o crédito sobretudo no custo de captação, mas também influenciam os spreads – provavelmente porque juros mais altos aumentam os riscos de inadimplência.
Fonte:
Escrito por Alex Ribeiro e Eduardo Campos
MINISTÉRIO DA FAZENDA
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